terça-feira, 22 de maio de 2012

EXERCÍCIO DE ESTRANHAMENTO DO EU A PARTIR DE MIM MESMO


Universidade Federal do Oeste do Pará - UFOPA
Instituto de Ciências da Sociedade - ICS
Programa de Antropologia e Arqueologia - PAA
Teoria Antropológica I

Aldo Luciano Corrêa de Lima


ETNOGRAFIA DO  EU A PARTIR DE MIM  MESMO

1.       Origem:
Pensamento - desejo – instinto – necessidade – homem – mulher - cidade de Primavera – Pará – Brasil – América do Sul – Continente Americano – Planeta Terra – Sistema Solar – Via Láctea – Universo – Infinito…
2.       Características:
Aldo Luciano Corrêa de Lima, espécie humana do sexo masculino, 32 anos, 72 Kilos, 1,65cm de altura. Corpo atlético com leves traços para obesidade. Fenótipo indígena com algumas características negras decorrente da miscigenação de pai com  fenótipo indígena e mãe com fenótipo negro. Temperamento forte, no entanto aparentemente calmo e inseguro.

3.       Localização:
Reside na cidade de Santarém, Pará que possui uma população de aproximadamente 300.000 habitantes, banhada por dois rios: Amazonas e Tapajós. Já morou em São Luis/MA, Macapá/AP e Belém/PA, apresentando dessa forma uma tendência a adaptação em habitats de água, seja doce ou salgada.

4.       Hábitos alimentares:
Café – pão, queijo, margarina, café, leite, açúcar. Nota-se que seu café da manhã é semelhante há hábitos da cultura ocidental, como o consumo do pão francês. Percebe-se a falta do uso de alimentos nativos como: macaxeira, pupunha, cará, tapioquinha, bejú de mandioca e chá de capim santo muito consumido por populações tradicionais.
Almoço / Jantar – alimentação baseada em carboidratos, gorduras saturadas e outros alimentos industrializados como por exemplo, cup nudles, massas, sucos em caixas, leite em caixa, arroz parborizado, açúcar granulado, etc. Alimentos que contém altos índices de manipulação química. O que se pode perceber é que muitas atividades realizadas durante o dia requer maior tempo para a realização das mesmas, dessa forma alimentar-se bem tornou-se uma ação em terceiro plano para a maioria da população do século XXI. Esse tipo de comportamento é muito comum em sociedades capitalistas onde é preciso produzir  e consumir cada vez mais e mais para poder sobreviver. Outras mudanças perceptíveis é o uso de novas ferramentas para a produção de alimentos como o forno microondas e o uso de refrigeradores para a preservação de reservas de suprimentos alimentares. O que antes era considerado como parte do modo de fazer e cozer um alimento atualmente não passa de simplesmente esquentar os alimentos industrializados instantâneos prontos para o consumo. Existe uma lógica consumista muito bem elaborada por trás da tecnologia existente nas novas ferramentas desenvolvidas desde a manipulação do fogo, fogueiras no chão, fogões em pedras, fogões de barro, fogões à gás, forno  microondas e tantos outros instrumentos para a culinária que são movidos pela energia elétrica e que foi muito bem absorvida pela sociedade atual.              Uma observação é necessária, fora do contexto citadino ou urbano - e aqui se faria necessário uma reflexão mais profunda do que é o urbano na Amazônia, mas que não vem ao caso – nota-se uma grande flexibilidade no consumo de alimentos naturais baseados principalmente em pescados, farinha de mandioca e frutas, dieta comum às comunidades tradicionais.

5.       Cultura:
5.1   Dimensão religiosa:
O indivíduo é declarado católico-apostólico-romano de corrente moderada, nem ortodoxo nem progressita. Desde a infância foi educado à fé católica de tradição romana, a mesma trazida e imposta pelos colonizadores portugueses. Essa é uma comum tradição familiar tipicamente européia onde as convicções religiosas são transferidas aos descendentes. No entanto há um notável comportamento de cunho ecumênico que o faz transitar entre o cristianismo pentecostal, religiões de matrizes africanas e rituais indígenas sem interferência na convicção doutrinária religiosa seja a sua seja a do outro individuo, isso o destaca entre muitos indivíduos cristãos.
5.2   Artes:
É um indivíduo que tem habilidades para pintura em telas, desenho, tocar instrumentos como violão, teclado e instrumentos de percussão como pandeiro, afoxé, marimba, curimbó, e ainda cantar. As primeiras habilidades são decorrentes da influência ocidental  com ênfase no período árcade e renascentista, no entanto as demais habilidades se dão por conta da forte influência  de culturas como a africana por conta do transito em religiões de matrizes africanas e a convivência em comunidades de remanescentes de quilombo.
5.3   Vestimentas:
As suas vestes passaram de sua função de proteção contra o frio e sol para um signo do trabalho realizado e do modo de ser individual. Assim percebe-se roupas mais elaboradas por conta de seu trabalho desenvolvido na esfera política pública e roupas mais simples para o trabalho com comunidades tradicionais, universidade, em casa. Em todos os casos elementos da vestimenta ocidental são muito nítidos: sapatos sociais que remontam à cultura tipicamente francesa do tempo de Luis XIV, calças jeans típicos dos proletários estadunidenses, camisas, bonés com forte influência norteamericana. É possível notar ainda uma tendência ao uso de biojóias que remontam à antigas civilizações Maias ou a povos indígenas mais recentes. Uma curiosidade é a predileção pelo uso do fio de algodão puro que contrapõe o uso de tecidos sintéticos utilizados na atualidade.

6.       Trabalho:
Aldo Lima trabalha como assessor de gabinete na Câmara Municipal de Santarém e como consultor de projetos na Federação das Organizações Quilombolas de Santarém. A ansiedade pelo consumo que o sistema capitalista impõe o faz trabalhar cada vez mais obrigando-o inclusive a especializar-se em algum tipo de formação. Esse é um comportamento comum para quem quer sobreviver e viver de forma cômoda e satisfatória em 2012 – aqui faz-se necessária a compreensão relativa do que seja uma vida cômoda e satisfatória, mas que também não vem ao caso discorrer agora sobre esse assunto. O primeiro trabalho é desenvolvido unicamente para tentar satisfazer os consumos pessoais já o segundo é tratado como militância e logicamente como fonte de recurso monetário e de conhecimento que o fez aproximar-se e interagir mais com as comunidades de remanescentes de quilombo, fazendo com que a identidade afrodescendente se estabelecesse de forma maior ideologicamente.

7.       Sociabilidade / Grupos sociais:
Em sua residência convive com dois cães e uma amiga de universidade que encontra somente à noite quando ambos conseguem terminar suas atividades acadêmicas e conversam sobre as ações realizadas durante o dia. Os cães suprem a necessidade de companhia comum a indivíduos solteiros e que costumam morar sozinhos, aqui faz-se ressaltar que até três meses atrás Aldo morava sozinho.
Participa ativamente de inúmeras reuniões em comunidades quilombolas, associações de bairro, movimentos eclesiais. Convive ainda com artistas do teatro e universitários. Toda essa relação justifica seus cães. Esse é outro comportamento comum a indivíduos do século XXI que cansados do stress do dia a dia procuram o isolamento e o descanso.
Dessa forma o que se pode concluir é que Aldo Lima é um indivíduo que apesar das reminiscências indígenas ou africanas consegue transitar por múltiplas culturas e assimilar um pouco de cada uma delas formando uma colcha de retalhos cultural. Se isso é bom ou não, não cabe agora o julgamento, mas ao menos serve para a ADAPTAÇÃO  e para a SOBREVIVÊNCIA das espécies. 

Esse exercício de etnografia foi realizado para a disciplina de Introdução Antropológia I em março de 2012.

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