Universidade Federal do Oeste do Pará - UFOPA
Instituto de Ciências da Sociedade - ICS
Programa de Antropologia e Arqueologia- PAA
Teoria Antropológica I
Aldo Luciano Corrêa de
Lima
Bruna, 20 anos, natural de Macaué, Pará,
desde cedo, pela manhã do sábado passou a fazer a limpeza e arrumar a
casa como de costume. Pela tarde começou a estudar com um de seus amigos até à
noite quando chegou mais quatro de seus amigos da universidade. Após o estudo Bruna começou a cortar mangas para oferecer sucos a eles. Após lavar a louça
utilizada para fazer o suco Bruna o serviu com pães, patê, refrigerante,
vinho e cachaça arrumados na mesa em que estudavam. É interessante como um
simples estudo pode virar numa
cachaçada. Na verdade, na maioria das vezes o estudo serve apenas como
pretexto.
Durante a
refeição, ao estilo inglês medieval, foi possível perceber que no meio da
conversa vez ou outra alguém pegava o seu celular para ficar teclando em redes sociais.
Mais uma vez é interessante perceber a força que o celular exerce em meio às
relações sociais em contato real. Qual a necessidade desse comportamento? Em
seguida todos brindaram à saúde, à amizade, aos estudos e ao sexo que gostariam
de fazer ao longo de seus percursos acadêmicos, cada um com seu refrigerante ou
vinho ou cachaça ou suco de manga. Bruna dionisicamente brindou com vinho.
Máscara - Acervo Fundação Curro Velho, Belém / PA | . Foto: Aldo Lima. |
Entre tantos assuntos e brincadeiras que
descontraiam a todos, falar sobre os
medos e experiências da infância dos presentes foi o destaque, onde surgiram
histórias como a de um menino que brincando com seu primo na canoa esqueceu uma
pedra amarrada no remo, quando o avô do menino resolveu voltar para casa notou
que estava com muita dificuldade para remar foi quando resolveu levantar o remo
e descobriu a pedra amarrada. Outra
contava que um tio resolveu brincar de pira esconde com seus sobrinhos numa casa
grande que tinha vários esteios no centro da casa, lá não havia luz elétrica,
quando o tio saiu a procura dos demais todos ouviram um grande TUM, a casa
balançou, o tio havia dado de testa em dos esteios e a brincadeira acabara com
um grande golpe na cabeça. Histórias de ratos andando em palhas de arroz e
cavalos que se soltavam à noite e que eram confundidos com visagens que faziam
as crianças se enrolarem em suas redes como em um casulo.
Foi falado ainda
sobre o medo que se tinha na hora de ter que ir ao sanitário que ficava fora
das casas principalmente quando se tratava dos sanitários da área de várzea
onde era preciso andar em estivas e onde
a tensão e ao mesmo tempo alívio se tinha com aquele “plum” na água. Do medo de
bezerros que fizeram um garoto atravessar uma cerca de arame farpado sem se dar
conta do feito e do costume que os pais tinham de fazer os filhos tomarem
benção de todo mundo criando assim muitos tios e tias, mesmo sem nenhum grau de
parentesco.
Todas essas estórias e
histórias foram regadas por muito destilado ou fermentado e ficavam cada vez
mais autênticas e criativas com o passar da hora, comprovando o quanto o
imaginário amazônico é rico em simbologias e medo. E Bruna como amazônida é raiz,
tronco, galho, rama, folha, flor e fruto desse meio. E infelizmente ao final todo
mundo embriagado, ninguém comeu ninguém.
Exercício de estranhamento da disciplina de Teoria Antropológica I apresentado em março de 2012.
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